UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA

Cada vez que entro numa UTI, me dá uma nostalgia de gente.


Não sei se aquela viuvez e orfandade, acompanhada de médico(a), volta e meia, e de enfermeiros(as) e seus(uas) auxiliares, faz bem aos corações doentes?


Sinto que alguma coisa, em profundidade e afeto, faz falta ali naquela unidade de tratamento intensivo. Trata-se o corpo, mas tenho a nítida impressão que se abandona a alma.


Como se arrancassem uma árvore acostumada ao sol, às nuvens e à chuva, e a trancassem numa cela diminuta de dormir. Uma alcova. Um prenúncio de uma câmara para maior número de corpos, desalmados e desamados.


Não que as paredes vedem o amor. Mas o olho no olho, a mão na mão, a proximidade de quem se ama é tão necessária quanto o mais poderoso dos medicamentos intensivos. Produz estrelas nas noites escuras.


Naqueles olhos de abandono, vejo cuias de chimarrão; tagarelices desnecessárias, mas tão úteis. Escorar-se numa cama e seus aparelhos para viver é de uma tristeza sem fim.


Talvez eu esteja vendo coisas demais. Talvez, eu devesse ouvir mais a razão, e menos as palpitações dentro do peito. Talvez. Sei tão pouco da medicina intensiva e dos seus chás científicos. Mas não posso calar minhas palavras e a falta de arte, flora e fauna que eu vi dentro das duas unidades intensivas, que visitei nos últimos meses.


Que o Universo me livre dessa solidão forçada!


E, se ela for necessária, bem!, mesmo assim quero que a mãe Terra e o pai Universo me deem a chance de ter ao meu lado a Mariana, o Murilo, a Júlia e a Claudia (filhos e esposa), e diversos outros, que fazem os meus dias mais arte, mais pintura, mais literatura, mais tudo, numa hora tão sem sol, para que sejam minhas estrelas neste navegar mares revoltos. É a minha prece ao tempo e ao espaço.


Abandonar a alma, quando o corpo está doente, … É - acho eu - arrancar as flores para que venham as borboletas. Sei lá! Algo me diz que isso não está certo. Peço ajuda aos universitários e àqueles que entendem de iluminuras nas dores e nas agruras.


Sei tão pouco deste brejo, mas precisava falar.

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