INCLUIR OU INTEGRAR

Antigamente quem tinha uma deficiência era considerado "portador" de deficiência. Como se esta anomalia fosse algo que se porta ou não porta quando bem entender. Fácil seria se assim fosse, pois teria uma deficiência aquele que quisesse "porta-la"; ou pelo menos quem tivesse uma deficiência teria alguma possibilidade de deixar de "carrega-la". Por um tratamento ou alguma outra terapia.

Através de outro prisma, conscientes de que a deficiência não é uma doença e sim uma característica genética, congênita ou adquirida por vários meios ambientais. Tornamo-nos pela Convenção da ONU em 2007 "PESSOAS COM DEFICIÊNCIA".

Assim compreende-se que aqueles acometidos de alguma anomalia, seja ela: (visual, intelectual, auditiva e física), são antes de quaisquer outra característica "uma pessoa": ser humano como os demais; e depois disto, possuem uma ou mais deficiência.
 
Sendo "pessoas" temos os deveres e direitos que qualquer ser humano tem; e por conter uma deficiência precisa de condições necessárias para exercer sua cidadania, conforme suas possibilidades.

O ser humano é muito versátil e possui condições suficientes de fazer do seu jeito, ações que para outros que por não ter as características, pertencente somente a "ele", não consegue, nem se quer compreender como, com tal limitação, aprende e faz...

Por isto o maior mandamento pregado pela Convenção da ONU, com valor constitucional é que: "nada seja feito por nós, sem a nossa participação".

Cada pessoa é única em suas particularidades e desenvolvimentos, precisando que todos os governantes e legisladores estejam sempre em contato com as Associações e Conselhos de Pessoas Com Deficiência, para que consigam realmente compreender as necessidades das pessoas com deficiência e sejam eficientes nas efetividades dos direitos constituídos para esta população.

Todos temos direito de aprender e participar das escolas destinadas a qualquer tipo de pessoas, pois antes de termos uma deficiência, somos uma pessoa e parte da sociedade, com os mesmos direitos destinados a "ela".

Por isto é importante a diferenciação do que é INTEGRAÇÃO E INCLUSÃO.
  • Integração: É ter o direito de  adentrar em quaisquer espaços, independente das condições adequadas para sua inclusão neles.
  • Inclusão: É conseguir o direito a acessibilidade e participação no local em que se encontra, com os mesmos direitos e deveres existentes para todos que participarem deste local.
Ao existir o direito das pessoas com deficiência em participarem das escolas; conseguimos adentrar nelas, ou seja estarmos "integrados" a elas; somos colocados no meio.

No entanto isto é totalmente diferente de inclusão. Pode-se ir para escola, junto com os demais que lá estão, frequentar a mesma sala de aula, estar nos mesmos ambientes; no entanto se não estiver lá incluso de nada adianta.

É impossível uma criança surda, participar de uma aula, na qual todos são ouvintes e o professor fala e fala e ela lá no cantinho, quer dormir ou fazer qualquer outra coisa que lhe desperte a atenção, pois nada escuta e assim está somente integrada ali, não tendo nada que a permita estar inclusa.

Incluir é adequar desde o transporte acessível para chegar nesta escola, como todos os ambientes da escola acessíveis para que ela tenha total autonomia; e na sala de aula, condições acessíveis de aprendizagem e desenvolvimento; conforme sua real necessidade.

Apenas é possível saber o quanto cada ser humano é capaz de aprender; quando lhes fornecem meios adequados e condições acessíveis a seu desenvolvimento.
 
Não posso exigir que o cego entenda o que esta sendo explicado no quadro, se ele nunca o viu, e nem se quer imagina como ele é.
 
Não posso querer que uma pessoa com deficiência intelectual tenha os mesmos desenvolvimentos que outra pessoa que não tem problemas cognitivos. Mas quantas habilidades podem ser desenvolvidas com ele, com amor, dedicação e condições adequadas de ensino.

Não devo exigir que o surdo faça leitura labial se ele tem o direito a "lingua brasileira de sinais" LIBRA.
 
Não tenho que oferecer o mesmo ambiente sem as adequações necessárias para que o cadeirante consiga seu direito de ir e vir em todos os ambientes, rodando sua cadeira.
 
O ideal de uma verdadeira "inclusão", ainda é um sonho bem distante por aqueles com deficiência que tanto precisa desta nova realidade. Onde compreenderão que não é a deficiência do ser humano que o limita de alcançar tantos dos seus objetivos. Mas sim a deficiência de uma sociedade apática e ainda cega, surda, imóvel e com muita lentidão de raciocínio, incapaz de se preocupar com o futuro. Onde esta inclusão servirá para todos que chegarão na melhor idade e sentirão na pele estas necessidades.

A única deficiência que não tem jeito.
É a deficiência da vontade. (Renato Melo).

 Vera Sábio
Psicóloga, servidora pública, esposa, mãe e cega
 CRP: 20/04509

vera.sabio@tjrr.jus.br

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