BRAILE, O MAIOR PRESENTE PARA UM CEGO

Embora as tecnologias nos dias atuais são o que há de maior inclusão entre as pessoas com deficiência visual. Sendo através da informática acessível a possibilidade de cursar uma faculdade, comunicar-se com qualquer pessoa em pé de igualdade e sem discriminação, ler livros imensos que seriam totalmente inviáveis pelo braile, divertir-se com jogos virtuais, obter novos conhecimentos, trocar experiências, fazer cursos online, participar das redes sociais, conquistar novas profissões como programadores, digitadores e outras que o uso do computador é essencial.

Enfim, como as demais pessoas que utilizam da caneta, não entendendo como viviam antigamente, sem o uso da tecnologia. Nós cegos precisamos do computador, sem eliminarmos a importância do braile, principalmente para aquele que nasceu cego.

O Braile é um código realizado a partir da constituição de 6 pontos com duas colunas e três linhas, formando em média 64 combinações. As quais possibilitam a alfabetização, as noções de ortografia, o contato com as palavras, formulas matemáticas e todas as condições que a criança que enxerga tem na utilização do lápis em seus primeiros anos escolares.

Ele é extremamente importante no desenvolvimento cognitivo, tátil e intelectual das pessoas que nasceram ou vieram a perder a visão na primeira infância.  Também possui em sua história, o exemplo grande de que podemos fazer das nossas dificuldades, meios eficazes na modificação do mundo.

Visto que Louis Braile foi um garoto francês que com aproximadamente 4 anos perfurou seus olhos com um instrumento que seu pai utilizava para fabricar sapatos. Após o período de luto e reabilitação, quis estudar e refazer sua vida, tendo a grande ideia de utilizar do mesmo instrumento que lhes deixou cego, para construir um objeto chamado de punção, o qual é a caneta do cego; com ela, a pessoa com deficiência visual consegue perfurar os pontos e formar as palavras.

O sofrimento pode ser uma passagem da dor para o prazer, da perca para a reconstrução, da derrota para a realização, do desanimo para a descoberta e da vontade para a ação. Tudo depende de como o utilizamos.

O que não podemos aceitar de braços cruzados é a pura intenção sem os gestos necessários para transforma-las em algo concreto, promovendo a inclusão.

Temos no Estado de Roraima um local onde há impressoras em braile e todos os equipamentos e servidores estaduais necessários para uma gráfica onde possam fazer cumprir as leis destinadas a maior inclusão e acessibilidade das pessoas com deficiência visual.

Se fizeram uma lei para que as contas de água, luz e telefone sejam entregues em braile para os consumidores com deficiência visual. Por que isto não está sendo cumprido?

Se o MEC envia os livros didáticos digitalizados para que através desta gráfica, sejam  transformados em braile e entregues no inicio do ano letivo, para que os alunos "cegos" possam participar das aulas,
recebendo os livros doados, como os demais alunos que enxergam. Por que estes alunos que não enxergam, recebem precariamente apostilas escritas em braile a mão ou a máquina, muitas vezes precisando eles mesmos a escreverem?

A inclusão só será possível quando tivermos a empatia de que uma pessoa com deficiência visual hoje, pode ser qualquer um de nós amanhã. E que as pessoas "cegas e de baixa visão", não querem privilégios. O que elas precisam, é serem vistas como as demais tendo oportunidade de estudar e progredir através dos recursos que foram desenvolvidos para sua maior inclusão.

No entanto estes equipamentos estão abandonados, tornando-se sucata e não realizando sua função.

As pessoas com deficiência visual são bem menos deficientes do que a sociedade que as acolhe precariamente. Muitas vezes elas não conseguem demostrar suas capacidades por falta de adaptações necessárias para isto.

E o gesto concreto que cada pessoa que enxerga precisa realizar, principalmente os pais e cuidadores de alunos "cegos". É entender que seus entes com deficiências tem todo o direito de estudar como os
demais, e se isto não está acontecendo, denuncie. Da mesma forma, aqueles "cegos" que precisam para sua maior independência, de conferir suas contas sozinhos, com a utilização do braile. É lei, é seu direito e merecemos que ele seja cumprido.


 Vera Sábio
Psicóloga, palestrante, servidora pública, esposa, mãe e cega
 CRP: 20/04509

vera.sabio@tjrr.jus.br

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